Wednesday, 7 March 2012


As pontes de Roma e fazer ponte em Portugal

 Roma é também uma cidade de pontes.

Uma delas é a Ponte Fabricio (também conhecida pela Ponte dei Quattro Capi por ter por dois Janus de quatro cabeças) que é a mais antiga ponte de Roma e que, quase inalterada desde 62 a.C., permanece uma firme sobrivente à fúria pretérita do rio Tibre.
Janus era o deus romano dos começos e das transições, das entradas, das portas, das pontes, dos fins e do tempo quer em termos físicos quer em termos metafóricos e simbólicos.

De Janus obtemos, por exemplo, janela e Janeiro (o mês de calendário e mesmo o meu amigo Paulo agora residente em terras francesas e, sem dúvida, descendente de um deus clássico).
Esta ponte liga o antigo gueto judeu à ilha Tiberina onde podemos encontrar a igreja de San Bartolomeu que ocupa o lugar do antigo templo dedicado a Esculápio, deus grego da Medicina.
Do outro lado da ilha temos a travessia para o Trasteve e o bairro bairro tradicional dos judeus em Roma.


Ponte Fabricio, ou Ponte Quattro Capi, Roma

 Uma outra ponte famosa é a Ponte de Sant’ Angelo com as fabulosas esculturas de Bernini (na verdade, são réplicas) representando os símbolos da paixão de Cristo.

Ponte Sant' Angelo, em Roma, com estátuas de Bernini
e Castel Sant'Angelo ou Mausoléu do Imperador Adriano
Ponte Sant' Angelo, Roma

Durante séculos esta seria a principal via seguida por peregrinos vindo de toda a Europa para chegar à basílica de S. Pedro. Em 590, o Papa Gregório I, o Grande, (o tal que dá o nome ao canto Gregoriano) vindo em peregrinação a São Pedro implorando o fim da peste que assolava Roma, ao chegar à ponte terá tido uma visão do arcanjo São Miguel embainhando a sua espada e assim dando sinal do fim da peste. Este episódio dá o nome à ponte e ao Castel Sant’Angelo e antigo mausoléu do imperador Adriano.

A construção de pontes em Roma era um cargo de grande importância presume-se desde a era Etrusca. Era tarefa tecnicamente complicada e de grande responsabilidade. As pontes eram decisivas na expansão e defesa do território, no desenvolvimento económico, no resultado de batalhas e tinham também uma grande variedade de conotações simbólicas.
Este cargo tinha a denominação de pontifex (presume-se que de pons = ponte e fex = raiz de facere, fazer) e foi adoptado por os mais altos sacerdotes e governantes romanos (por exemplo, imperadores de cônsules adoptaram também este título) e passou a ser pontifex maximus. Ainda hoje o Papa tem o título de sumo pontífice e temos a palavra pontificado.

Não se entende, portanto, a recente obsessão de acabar com as pontes em Portugal. É evidente que a prática de fazer ponte junto a um feriado aproximava, em termos simbólicos, muitos Portugueses da Roma clássica e até do Papa Sumo Pontífice. Quanto mais não seja em termos etimológicos... era sinónimo de civilização avançada e erudição clássica.

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